Vivemos novamente um momento de expansão do setor da construção civil, porém, antes de construir onde a infra-estrutura ainda é precária, existe a opção de Recuperação Estrutural das edificações existentes.
Quando o assunto é recuperação estrutural, o destacamento ou desplacamento cerâmico é uma das principais dores de clientes e construtores.
Podemos exemplificar essa patologia nesta edificação multifamiliar localizada na cidade de Belo Horizonte, em Minas Gerais.
A aplicação ocorreu em uma área externa. Foram utilizadas peças de cerâmica para o revestimento da fachada.
Neste caso específico a execução não considerou a necessidade de dupla colagem (aplicar a argamassa colante na base e verso da peça cerâmica) e colagem física e química.
Quando falamos em recuperação de estruturas é importante sempre levar em conta a Lei de Sitter, representada no gráfico abaixo.
Basicamente, esta Lei é um estudo de custo de reabilitação versus tempo de obra.
Desta forma, quanto mais rápida a visualização e recuperação, mais barato para o proprietário ou construtor.
Como você já sabe, melhor prevenir do que remediar.
Por meio de inspeção visual in loco o especialista geralmente consegue identificar as causas e ocorrências desta problema tão comum em nossas obras na cidade de Belo Horizonte.
Agora vamos aprofundar um pouco mais em todas as 6 possibilidades mais evidentes em obras de construção civil no Brasil.
As origens das Manifestações Patológicas
Desta forma, execução (28%) e projeto (40%) são fases essenciais para a bom funcionamento da obra como um todo.
Sendo que muitas vezes a elaboração de um projeto de impermeabilização e fachada, juntamente com o treinamento e contratação de mão de obra qualificada fazem toda a diferença neste tipo de situação.
As 6 principais causas de destacamento cerâmico são:
1. Pulverulência do substrato
2. Especificação incorreta da argamassa colante
3. Movimentação da estrutura
4. Juntas de dilatação
5. Detalhes de impermeabilização
6. Tipo de impermeabilizante
1. Pulverulência do substrato
A pulverulência pode interferir diretamente no desempenho da obra, esta situação é caracterizada pela perda de aderência da argamassa colante/impermeabilizante no substrato.
Este tipo de problema patológico esta previsto na ABNT NBR 13749 – Revestimento de paredes e tetos de argamassas inorgânicas – Especificação.
O anexo A desta norma traz as principais ocorrências que contribuem para o destacamento de peças cerâmicas. São eles: Excesso de finos no agregado, Traço pobre em aglomerante (cimento) e Carbonatação insuficiente da cal.
Outra norma importante nesta conjuntura é a ABNT NBR 9575 Impermeabilização – Seleção e Projeto prevê que a camada de regularização vertical tem a função de regularizar o substrato, proporcionando uma camada uniforme de apoio, coesa, perfeitamente aderida e adequada à camada impermeável.
2. Especificação incorreta da argamassa colante
Deve-se haver sempre a compatibilidade do revestimento e da argamassa colante.
Quando não temos a compatibilidade entre o revestimento e a argamassa colante, corremos o grande risco de haver desplacamento de revestimento em fachadas.
É importante destacar que as argamassas colantes são divididas em três classes:
AC I – Argamassa Colante Tipo I
A Argamassa Colante AC I é basicamente uma argamassa simples, sem polímeros, por isso, sua capacidade de aderência é reduzida.
Deste modo, é especificada para locais internos, pequenos e com baixa movimentação, pois demanda da ancoragem mecânica, ancorando no tardoz da peça, exigindo grande porosidade do material cerâmico.
AC II e AC III – Argamassa Colante Tipo II e Tipo III
A Argamassa Colante AC II tem a capacidade de ancoragem mista (mecânica e química).
E a Argamassa Colante AC III tem uma grande quantidade de polímeros que garantem uma flexibilidade maior para o sistema, sendo especificada para revestimentos com menor porosidade, maiores dimensões e maiores movimentações.
Emboço: Condições para recebimento da Argamassa Colante
Algumas condições devem ser seguidas para a perfeita execução do revestimento cerâmico no emboço.
O encunhamento normalmente é feito com o preenchimento com argamassa expansiva ou espuma de poliuretano (cerâmica e concreto armado são materiais distintos que trabalham de formas diferentes).
Por isso, na argamassa de emboço, quando não é feito uma junta de movimentação, é necessário a colocação de uma tela em toda a faixa do encunhamento, para atenuação de fissuras no encontro de topo de alvenaria com fundo de viga.
Esta tela deve ter largura mínima de 50 cm e em nenhum momento podem ficar a menos de 10 mm do chapisco.
É importante salientar também que para o recebimento da Argamassa Colante o emboço deve ter sido executado há pelo menos 14 dias e deve apresentar temperatura entre 5ºC e 30ºC.
Em temperaturas superiores a 30ºC deve-se fazer o umedecimento prévio do emboço.
3. Movimentação da Estrutura
É essencial saber qual será a utilização e movimentação da estrutura (concreto armado, estrutura mista, estrutura metálica, pré-moldada, esbelta).
Este estudo é fundamental para se obter o máximo desempenho da estrutura e quais serão as movimentações que a edificação vai apresentar ao longo da Vida Útil de Projeto (VUP).
Dependendo da movimentação, teremos de trabalhar com impermeabilizantes e argamassas colantes flexíveis.
4. Juntas de Movimentação
As juntas são grandes causadores de manifestações patológicas deste tipo em fachada de edificações.
Existem basicamente quatro tipos de juntas: Junta de assentamento, Junta de movimentação, Junta de dessolarização e Junta estrutural. Neste caso, vamos tratar apenas da junta de movimentação.
Infiltrações indesejadas, fissuramento espontâneo e encavalamento do revestimento. Estas são algumas das manifestações provenientes da não execução correta de juntas em fachadas.
A junta de movimentação deve-se iniciar no reboco, atraindo a retração e dilatação.
Geralmente é executada realizando um rasgo com uma desempenadeira especial enquanto a argamassa ainda esta fresca.
Deve-se também impermeabilizar esta junta, colocar o delimitador de forma (tarucel) e recobrir com selante flexível (mastique poliuretano).
Para dissipação correta das tensões, a norma recomenda a junta horizontal a menos de 3 m de altura ou a cada pé direito. E juntas verticais posicionadas a menos de 6 m.
5. Detalhes de Impermeabilização
Um bom projeto de impermeabilização é essencial para qualquer edificação, ao mesmo tempo, este item é altamente negligenciado no estado Minas Gerais.
Arremates em janelas, peitoris, furos e tubulações devem estar previstas em projeto e bem executadas durante a obra para se evitar a passagem de umidade nas juntas, esquadrias e outros pontos de passagem de fluídos.
6. Tipo de Impermeabilizante
Existem diversos tipos de produtos com características impermeabilizantes, por isso, é importantíssimo verificar a demanda da obra e compatibilizar com o melhor produto para cada situação.
Alguns problemas por tipo inadequado de impermeabilizante
Fissuramento da impermeabilização, não resistência aos raios UV, desplacamento, manchas e fungos.
Conclusão
Recuperar uma edificação significa deixá-la em perfeito estado de uso. Para isso, devemos evitar a todo custo alguns erros que podem gerar grandes dores de cabeça para a construtora e o proprietário.
É extremamente importante a limpeza e tratamento adequado do substrato antes de se assentar o revestimento cerâmico.
Sempre devemos atentar para o tipo certo de argamassa colante específico para cada situação.
A movimentação da estrutura é primordial para se projetar os sistemas de juntas.
O bom projeto de impermeabilização é essencial para prolongar a vida útil da edificação.